quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010














Fotos em Cite Soleil, o bairro de PAP, considerado pela ONU em 2004 como o 'local mais perigoso do mundo'. Nada disso.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Pisca-Pisca (o carro-quase-jipe)

Hoje foi dia de montanha-russa: hora para cima, hora para baixo e para os lados.
Comecemos pelas partes baixas. Reuniao as 9 da manha com toda a redaccao. Meu adorado chefe anuncia mudancas no funcionamento da casa. Para encurtar a historia: de 14 jornalistas, passei a coordenar apenas um. Acho que deve ser recorde mundial: uma supervisora para um jornalista! Parte alta: logo apos a reuniao, quase todos os 14 vieram abracar-me com a lagrima no olho (OK, eu sei que nao e pelos meus olhos, mas sim pelos apeteciveis metodos Mari, conhecidos como regras-com-excesso-de-flexibilidade).

Pouco depois de iniciadas as minhas novas funcoes um-para-um, tive que ausentar-me da radio para uma maratona burocratica. Para sair do pais durante as tais duas semanas obrigatorias (cura de stress, assim lhe chamam), tenho que preencher um documento no qual tem de constar cinco assinaturas de outros tantas unidades da Missao (daquelas com siglas estranhissimas, CMS, UNV, Security algo, etc). Naqueles outros tempos, ou seja A.T., todo este mega procedimento era feito electronicamente. Agora, D.T., voltamos a idade do papel. Assim, a maratona pressupoe andar com 3 papeis na mao e percorrer kms e kms na Log. Primeiro, ida aos psicos para confirmacao de stress pos-trauma. Resultado: primeira assinatura. Segundo, mostrar essa justificacao ao respectivo supervisor para mais um rabisco. Terceiro, unidade dos voluntarios para obter mais uma permissao. Quarto, caminhada de 15 minutos ate ao fundo da Log, para obter a autorizacao da seguranca. Regresso a zona central da base (baptizada como downtown), para entregar o papelinho (ja cansado de tanto rabisco e carimbo) na administracao para uma quinta assinatura.
Apos essa assinatura, hora de entregar o documento na Travel Unit. Agora aguardo o itinerario da viagem. Nao, ainda nao e o fim. Depois, terei que ir a unidade de transporte para confirmar o aviao ONU. E antes, antes da partida ainda terei que passar pelas Financas.

Mas passemos as partes altas: o/a Pisca-Pisca resuscitou!!! Pisca-Pisca e o meu carro-quase-jipe que, desde que a terra tremeu, estava desmaiado na garagem sem bateria. Na verdade, a bateria era supostamente nova, pelo menos foi isso que o meu mecanico me cobrou em Novembro passado. Na conta da reparacao tambem constava o oleo. Mas, surpresa, hoje nem uma
pinguinha o bicho tinha. O bicho ou a bicha, nao sei bem.
A historia do Pisca e longa e esta directamente ligada ao The Club, o tal grupo de amigos que praticamente ficou enterrado na sede da ONU (e sobre os quais ainda nao me atrevi a escrever nada). Quando pela primeira vez conduzi no Haiti, fi-lo numa especie de carro (carcaça com motor, para ser mais precisa) que nao tinha travao de mao nem piscas. Ora, foi precisamente quando contava estes pormenores ao The Club que, perante a falta de palavra em ingles, utilizei o termo portugues para falar dessa ausencia dos sinais intermitentes de mudanca de direccao. Tornaram-se logo fãs da palavra e, dias mais tarde, quando chegou o meu carro-quase-jipe baptizaram-no de Pisca-Pisca.
Houve, no entanto, alguns problemas quanto ao genero do carro-quase-jipe. Naturalmente, que para mim era um rapazola, o Pisca, substantivo masculino. Mas para o The Club (que se comunicava em ingles) era uma 'she'. Ainda tentei explicar que havia engano no sexo. Nao adiantou. Acreditavam que, se a palavra que terminava em 'a', era necessariamente feminina. Ainda por cima duas palavras seguidas: piscA-piscA. A maioria venceu. O carro-quase-jipe passou de macho a femea.
Voltando ao periodo D.T.. Pisca-Pisca is back. Hoje fui com a ambulancia (que ja foi quarto), carregar a bateria do meu carro. Depois de reunir os vizinhos de toda a rua para empurra-lo para fora da garagem, fez-se a ligacao (cabos positivo, negativo e tal) et voila!
O/A Pisca tossiu mas arrancou e foi de imediato a bomba de gasolina (o reabastecimento ja esta normalizado no pais) onde tambem coloquei o oleo (o tal que paguei em Novembro mas que evaporou).
Como qualquer cidadao responsavel, mal estacionei junto a bomba, desliguei o motor. ERRO!!! Foi preciso voltar a dar-lhe com o negativo-positivo para voltar a pegar.
Arrancou de novo, eu, meio braco de fora e la fui estrada cima, oh!, deixei o carro ir abaixo. Nova operacao carregamento de bateria com auxilio da eterna ambulancia. Enfim, como estava com fome, foi preciso fazer mais uma paragem para um almocinho crioulo. Sobremesa: novo carregamento de bateria.
Depois, a ultima prova. Fazer uns 8 kms de subidas, descidas, carros de militares, camioes, mercados informais, bananas e legumes espalhados pela estrada, peoes, escombros e tudo o que mais existir, entre o bairro onde habitava e a Log. Uma prova de obstaculos sem direito a uma unica paragem de motor. Prova superada!
Agora, o/a Pisca-Pisca esta estacionada na base dos capacetes azuis da Guatemala, a levar com uma dose cheia de bateria!!! Amanha, Pisca-Pisca is BACK for GOOD! SAIAM DA FRENTE!!!