quinta-feira, 11 de março de 2010

Sauna Flutuante





Confesso. Fui passar uma noite ao cruzeiro fundeado ao largo de PAP, enviado para alojar os funcionários da Missão. Eu, que por várias vezes gritei (e escrevi neste mesmo local) que não me apanhavam lá. Não, não foi fraqueza. Decidi que tinha que ir espiar o local, para poder criticá-lo melhor. Criticar, não Porque eu NUNCA critico, eu só relato factos.


Antes mesmo do barco chegar, o povo da missão já lhe tinha dado nome. O Love Boat. Eu, só para contrair, dei-lhe outro título: Titanic. Na verdade, a barcaça, chama-se qualquer coisa Esmeralda. Pouco importa, até porque já teve vários nomes nas ultimas décadas, o último dos quais ainda é legível, apesar da mais recente mão de pintura para efeitos cosméticos.


Confesso. Tinha uma certa vontade que a experiência confirmasse o meu pessimismo. Porém, não era preciso tanto! Mas, como nunca critico, vamos aos factos:


Para chegar ao Esmeralda Titanic é todo um processo. Registo à porta do autocarro estacionado na Log (Base Logística), entrada imediata no dito (sem direito a pausa no exterior para fumaça enquanto se espera por outros passageiros), escolta policial até ao pseudo porto, desembarque no dito, caminhada curta mas com alguns obstáculos temíveis (pedras e militares americanos), entrada no bote. (paragem para recuperar fôlego) ...


(continuação) Bote parte, ondas de, literalmente, marear qualquer um e... nada. A viagem foi interminável. E eu só conseguia ouvir algumas alminhas a comentar: 'ai que estranho, é a primeira vez que apanhamos uma viagem assim'. Sim, claro, logo no dia em que eu decido vir é que acontece! Deu-me a impressão que estava numa batalha: de um lado eu, a pessimista do Titanic, do outro, todos os restantes passageiros, os tais da Esmeralda Love Boat. Mas a sorte (azar) estava do meu lado. Não, eu nunca critico.


Mal entrámos na barcaça, (não sem antes termos saltado olimpicamente do bote para a plataforma, assim ditou a maré) começaram-me a subir os calores. Mais literalmente era impossível: não havia ar condicionado! Acho que até o próprio Titanic, o original, teria algum tipo de refrigeração (oops, sem qualquer tipo de referencia ao acto final).


A partir daí, a minha batalha estava ganha. Por muito que me tivesse calhado o melhor quarto (de certeza que foi dedo dos optimistas), que a comida até não fosse má (mas a cozinha fechava às 8.30), que estivesse rodeada do gangue (um misto de tugas, brasileiros e a nossa italiana), que o bar estivesse aberto sem hora de fecho, que o ginásio estivesse a rolar (embora as duas piscinas - interior e exterior- estivessem sem água), que, que... nao havia como evitar: o Titanic era uma sauna! Se calhar é moda noutros paises. Ando um bocado afastada dessas lides.


última confissão. Depois de uma noite suada (e isto tem tudo menos segundos, terceiros ou quartos sentidos), duche em água... quente (e havia dúvidas??), seguido de pequeno-almoço numa sala também... (escusado repetir), decidi fazer aquele sorriso-de-quem-vai pedir-algo-que-não-está-nas regras. "Por favor, señorita, puedo ir a desayunar arriba? Juro que cuando termine vengo a traer todas las cosas". (E juro mesmo que tinha intenções de entregar toda a louça à procedência)


E agora que vem a tal última confissão: terminado o pequeno-almoço, pus-me nas fotos e na fumaça até reparar que os passageiros já estavam a entrar no bote. Desci como louca e esqueci-me da louça do pequeno-almoço no convés! Oops! Disculpa señorita!

Um comentário:

  1. Mais uma aventura, Mariana. Depois das tuas críticas, perdão, constatações, só posso dizer que preferia o Love Boat da televisão.
    Continuas a preferir a tenda ou a ambulância, está visto. Pelo menos deu para escreveres mais uma folha do teu Diário.
    Cuida-te.
    Beijinho

    Maria Águeda

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