sexta-feira, 30 de abril de 2010

Falta do que Fazer...

Andei a adiar este momento durante algumas semanas. Queria estar com a mao quente, que nem coisa de basquetebolista. Enfim, nao sei se esta quente ou fria, mas arrisco.
Regressei de Macau com a ideia fixa de salvar o meu antigo computador das ruinas da sede da ONU. Uma especie de Em Busca do Tempo Perdido (sim, eu sei, ja passaram cerca de 3 meses). Tarefa complexa essa. O antigo complexo utilizado (e arrendado) pela ONU ja tinha sido entregue ao proprietario e ninguem tinha autorizacao para la entrar. Ninguem, salvo seja, excepto os saqueadores, claro.
Preparei-me a rigor. Nada de acompanhantes, nada de carros oficiais. Euzinha, meu Pisca-Pisca e um sorriso nos labios misturado com uma certa (falsa) ingenuidade. Nao foi dificil de entrar na propriedade.
Depois, encarar as ruinas e as memorias, de seguida procurar haitianos que me ajudassem a trepar ao meu antigo escritorio, a partir das pedras, pedacos de cimento e lixo, restos do edificio principal que se desmoronou ao ritmo do tal treme-treme.
Uma mao puxa ali, uma outra puxa a perna, outra aproveita-se e sobe onde nao deve para, num exercicio meio contorcionista, 4 intrusos (eu e meus desconhecidos haitianos) invadirem o meu ex-escritorio. Juro, ainda pensei que estava a segundos de por os olhos em cima do meu antigo computador e, mais importante, do unico exemplar da minha quase-tese-de-mestrado Desporto para a Paz e Desenvolvimento (o caso do Haiti). Mas, dentro da redaccao, nada. Papeis. O chao estava branco, um misto de po e folhas.
Ainda tive esperanca de enconrar o meu teclado portugues. Afinal, tambem ele era branco, talvez se confundisse com o cenario. Mais, tem os acentos em parte incerta aos olhos dos haitianos, para alem do c de cedilha que nao lhes serve para muito. Engano meu. Deve ter sido o primeiro teclado a ser saqueado, dado ser uma excentricidade no mercado local.
Computador: nada, teclado: nada. Curiosamente, o teclado original, modelo local, estava ainda la. Obrigadinha. Esse tambem eu o deixei. Ainda la esta.
Mas nao sai de maos a abanar: reencontrei a minha gramatica francesa, a enciclopedia e o meu dicionario portugues-frances e vice-versa. Parece que a rapaziada do saque nao e muito dada as letras.
A caca (que jeito dava ter agora uma cedilha) ao material do escritorio perdido nao se ficou por aqui. Voltei varias vezes ao local, em jeito de investigacao. Passei a conhecer o proprietario do complexo, os capacetes azuis que ainda estao ali estacionados, os segurancas privados do local que fazem de conta que nao sabem dos roubos, os curiosos, enfim ja sou uma habituee das ruinas. E assim consegui descobrir um deposito cheio de computadores, fotocopiadoras, radios de comunicacao e micro-ondas, tudo restos da nossa sede. Mas, nao, o meu computador nao estava la. A ajudar-me nessa busca estava o proprietario que orientava dois dos seus homens: “va, procurem um teclado branco, e o teclado da menina. E o unico. Se estiver ai, vai estar tambem o computador.”
Nem uma coisa, nem outra. Ja nao tem importancia. Recomecei a reescrever a quase-tese e, desde ontem que recuperei o tempo (e o trabalho) perdido. As linhas que hoje acrescentar ao trabalho vao ser totalmente novas. Teclado? Bem, ate aqui compreenderam tudo, nao? E onde era mesmo que estavam os acentos e o c de cedilha?

4 comentários:

  1. Querida Mariana
    Até que enfim voltas ao nosso convivio. Assim teremos mais notícias. Todos os dias te procuro e dava sempre com a mesma data. Já estava a desesperar.
    Pena que tenhas perdido o trabalho, mas com toda a tua garra, vais refazê-lo num instante.
    Que tudo corra bem contigo, miúda.
    A tua amiga e fã, quase desconhecida, torce por ti.
    Abraço grande
    Maria Águeda

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  2. Mariana - perdida a tese, perdida do fio tão comum deste portugal pequenito: ontem deram um vídeo-choque do palácio ou lá o que era, a tremer...Julguei que falassem em reconstrução, em esperança, em pessoas que haverá por aí como tu. Mas não, só o fausto da "nóticia". Aqui também faltam cedilhas! Um abraço para ti de quem nem conheces mas que te tem seguido como se de família fosses.

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  3. Mariana
    Por onde andas?
    Todos os dias venho aqui na esperança de ver algo de novo.
    Sei de ti pela tua tia e minha grande amiga D.
    Ela está nervosa, mas bem.
    Beijos
    Maria Águeda

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  4. munto de gema o balogue...demasiado de balore
    besite tamem o nosso balogue e deixe lá um cumentário
    http://realconfrariademalhadoresdetinto.blogspot.com/

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