sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
























E nao e que a radio caiu do ceu?
Primeiro, as movimentacoes nas antenas (sera esta foto "trabalhar as antenas"?), duas horas depois a chegada dos estudios!! O primeiro chegou por terra, o segundo veio (vi-o) do ceu. Que parelha!
Os dois estudios de producao estavam na anterior sede, mas sobreviveram. Chegaram hoje a nossa nova radio, para onde fomos evacuados ontem, depois do anterior "acampamento" radiofonico ter sido declarado local-cheio-de-rachas-a-abandonar-urgentemente. Tudo isto parece confuso, e e. (os acentos ficaram no meu antigo teclado, enviado pela Estelinha de proposito para o Haiti. Esta algures na sede da ONU). A equipa da radio foi, entao, desterrada para o fim da Log (Base). Estamos num dos extremos, junto ao acampamento dos capacetes azuis da Jordania. Hoje ja foi feita uma cronometragem: de um extremo ao outro da Log sao precisos cerca de 15 minutos! Pormenor sem importancia, nao fosse estarmos longe da Avenida principal, onde desfilam ONG's, Agencias ONU, Presidentes e Ministros, jornalistas,,, e do local onde apanhamos a carreira da ONU para ir a caca (tenho de deixar de usar esta palavra) da noticia.
Voltando a radiofonia, ja estao a caminho mais dois contentores-estudios. Sim, eu sei, nao ha fome sem...
A isto junte-se a cabana-redaccao onde estamos agora instalados, e arriscamo-nos a ser uma especie de RFI ou BBC ca das Caraibas. Bem, os recursos humanos e que ainda nao sao directamente proporcionais aos meios tecnicos. Pormenores.
Neste momento, sou responsavel por 14 dos tal vinte jornalistas (ou primos afastados de jornalistas) contratados a pressao. Tenho tentado, o mais rapidamente possivel, perceber os pontos fortes de cada um. Mas, estou um pouco desorganizada: nao me lembro do nome de ninguem, dou funcoes trocadas a todos eles, chamo o nome errado, enfim, ainda pensei pedir-lhes para usarem um papel com um nome ao peito (como alias os psico e psiquiatras fazem aqui na Log- andam com um papel ao peito a anunciar que sao psi qualquer coisa, como se alguem os fosse chamar e pedir ajuda no meio da Avenida principal da Log. Pode andar tudo com o trauma, mas interpelar o psico no meio da rua com todos a verem, isso e que nao!!!).
O algum senso que me vai restando, fez-me nao pedir aos jornalistas para usarem o tal papel, mas obrigou-me a criar 3 mil tecnicas para interpela-los e conseguir que digam constantemente o seu proprio nome, assim como se fosse algo natural. (exemplos: "Madame Mariana, eu, Marie Antoine, vou entao sair em reportagem ao tal sitio?"; "E eu, Antoine Joachim, posso ficar hoje com as breves?")
Todos eles, apesar da tal falta de parentesco com as noticias, estao com uma vontade forte de trabalhar. Alguns sem dinheiro no bolso (enterrado nos escombros e os bancos so abrem amanha pela primeira vez), oferecem-se para percorrer 3 pontos de reportagem, mesmo que sejam em lados extremos da cidade, em zonas agora a saque. Querem mostrar trabalho, aprender, assegurar que daqui a tres meses o contrato e renovado. E bonito de ver, mas aperta saber as historias que ajudam a explicar tanta entrega.
A devocao tem, no entanto, alguns limites. Menos uma semana de trabalho na MINUSTAH e ja comecaram as reinvidicacoes. Individualmente ou em pequenos grupos, vieram-me perguntar se tinham que trabalhar Domingo. La expliquei que iriamos definir turnos mas pedi compreensao para este domingo, depois de amanha. Nao convenci. Demorei a perceber o que estava em causa: querem ir a missa (obvio Mari). A Cristina (a minha sobrevivente), teve porem uma resposta seca e pratica (de quem esteve dois dias enterrada em escombros): "Mas que missa, se todas as igrejas ruiram?"
Hoje, despedimo-nos no aeroporto de mais uma amiga da Missao que nao escapou ao tremer da terra. Agora, quase todos os dias, despedimo-nos de alguem. Sao os unicos momentos e minutos que chocamos de frente com a realidade. Todo o resto do dia, andamos distraidos a trabalhar, a fazer de conta que nao e assim tao serio, a dormir pouco para nem sequer dar hipotese aos sonhos. E quando se sai para o terreno? Para o centro da cidade? Veste-se a capa de jornalista, assenta bem e e (quase) impermeavel. Quase.

8 comentários:

  1. Mantém-te alerta, porque após o paralisante estado de choque inicial, é natural que a actual situação de colapso generalizado favoreça movimentações violentas e já com alguma organização marginal. Olho vivo e pé ligeiro. Fica bem.

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  2. OOnde é que vais buscar essa força, Mariana? Ao coração, por certo.

    Um beijinho.

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  3. Um abraço , grande , grande Mariana, muito obrigado , assim ficamos a conhecer outro ponto de vista.
    um abraço

    ________ JRMARTo

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  4. ... um abracinho muito forte para ti, valente Madame Mariana :)

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  5. Madame Mari, eu costuma dizer à familia que tu tens uma estrelinha sobre ti, que te ajuda e proteje. Mas afinal, depois de atenta a tudo, chego à conclusão que a estrelinha ès mesmo tu, para ti mesma, para quem te acompanha e precisa de ti neste momento tão particular. Um grande beijo e um abraço muito terno.

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  6. "Ganda" tia Mariana!
    Beijinhos do John e Peter

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  7. Mariana
    Ainda bem que a capa te assenta bem. Sempre dá outra disposição, vestir alguma coisa que nos assenta. Além de que, "Quem tem capa, sempre escapa".
    Força, linda menina.
    Beijinhos
    Maria Águeda

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  8. Mariana, estamos sempre a acompanhar-te, de longe, mas ao mesmo tempo de perto porque estamos sempre contigo. Ouvimos-te hoje no directo da SIC e também á tua mãe. "Estelinha", é um termo que me é familiar, também é assim que muitas vezes chamo à minha mãe. É bom ouvir a tua voz.
    Olha tenho aqui um "chato" de 9 anos, o Tiago, que diz que te quer escrever. Vou passar-lhe o teclado(o meu com acentos) se não vai ficar aqui a melgar-me.
    Mariana quero-te dizer que és muito corajosa, eu sou escuteiro mas não tenho a tua coragem, acho. Também és muito bonita. ajuda os meninos e meninas que puderes e todos também. Beijinhos do Tiago
    Ok Madame, O Tiago é muito selectivo, e para dizer que és muito bonita, é porque o acha mesmo. E és mesmo minha querida, és muito bonita, por fora e por dentro. Um grande beijo e força.

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